6. ✦ Cosmologia na Idade Média e no Renascimento

✦ 1. A Transmissão do Conhecimento Clássico

Com a queda do Império Romano, a Europa Ocidental mergulhou num período de fragmentação cultural.
Mas a herança cosmológica de Platão e Aristóteles não desapareceu — foi preservada e reinterpretada à luz da teologia cristã.

  • Mosteiros e universidades medievais tornaram-se centros de cópia e estudo das obras clássicas.
  • Filósofos islâmicos como Avicena e Averróis traduziram e comentaram Aristóteles, influenciando o pensamento europeu.
  • A partir do século XII, as traduções do árabe para o latim reacenderam o interesse pelas visões cosmológicas antigas.

O modelo geocêntrico e hierárquico foi mantido, mas agora fundido com os dogmas cristãos.


✦ 2. A Cosmologia Medieval: Ptolemeu e a Igreja

O principal modelo cosmológico da Idade Média foi o de Cláudio Ptolemeu, formulado no século II d.C. no Almagesto.

  • A Terra no centro do universo (geocentrismo).
  • Os corpos celestes movem-se em esferas concêntricas.
  • Os epicíclos explicam as aparentes irregularidades dos planetas.

A visão cristã do cosmos

A Igreja Católica adotou esta cosmologia como doutrina oficial, por estar alinhada com a ideia de um universo ordenado, fechado e criado por Deus.

A Escolástica e São Tomás de Aquino

A filosofia medieval buscava conciliar razão e fé:

  • A hierarquia do cosmos refletia a ordem divina.
  • O Primeiro Motor Imóvel de Aristóteles foi identificado com Deus.
  • As esferas celestes perfeitas tornaram-se símbolo da criação divina.

Qualquer questionamento ao modelo geocêntrico era visto como ameaça à autoridade e à fé.


✦ 3. As Primeiras Contestações: O Humanismo Renascentista

Com o Renascimento, surgem novas formas de pensar:

  • O Neoplatonismo trouxe de volta a ideia de um cosmos regido por proporções matemáticas.
  • A alquimia e a astrologia, apesar do seu misticismo, incentivaram a observação.
  • A valorização da experiência empírica começou a rivalizar com a autoridade dos textos antigos.

Estava criado o cenário para uma revolução no pensamento cosmológico.


✦ 4. O Renascimento e a Nova Visão do Cosmos

Nicolau Copérnico e o Sol no centro

No De Revolutionibus Orbium Coelestium (1543), Copérnico propõe o modelo heliocêntrico:

  • O Sol está no centro; a Terra gira em torno dele.
  • A Terra move-se, e não é o ponto fixo do universo.
  • O modelo explicava com elegância o movimento dos planetas — mas não foi imediatamente aceite.

Johannes Kepler e as órbitas elípticas

Kepler corrige o modelo copernicano:

  • Os planetas não se movem em círculos perfeitos, mas em elipses.
  • As suas leis derrubam a crença na perfeição geométrica aristotélica.

Galileu Galilei e a prova através da observação

Com o telescópio, Galileu transforma a cosmologia:

  • Observa as luas de Júpiter — prova que nem tudo gira em torno da Terra.
  • As fases de Vénus confirmam o heliocentrismo.
  • Detecta imperfeições na Lua e manchas solares, contrariando a ideia de céus perfeitos.

Em 1633, foi condenado pela Inquisição. Mas o paradigma já estava a mudar.


✦ 5. O Fim da Cosmologia Medieval

O Renascimento marca a rutura com a visão antiga do cosmos:

  • O heliocentrismo desloca a Terra do centro do universo.
  • A observação e o cálculo matemático tornam-se ferramentas principais.
  • A autoridade da Igreja sobre o saber começa a ser contestada.

Esta transformação prepara o terreno para Isaac Newton, que consolidará a cosmologia moderna com as leis do movimento e da gravitação universal.

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