Dolmen do Neolítico perto de Vila Praia de Âncora, associado a lendas de mouras encantadas. Um espaço silencioso onde a ancestralidade ainda se manifesta.
Monumento megalítico e lenda viva entre o monte e o mar
A poucos minutos de Vila Praia de Âncora, escondida entre pinhais e matos baixos, encontra-se a Anta da Barrosa — um dos principais monumentos megalíticos do Alto Minho. Este dolmen do Neolítico, com cerca de 5000 anos, resiste à erosão do tempo e da memória, conservando a sua estrutura original de esteios verticais e tampa horizontal.
É um monumento simples à primeira vista, mas carregado de significados.
Na sua época, foi usado como câmara funerária coletiva — provavelmente por comunidades agro-pastoris com forte ligação ao ciclo da terra. A orientação do monumento e o esforço na colocação das pedras indicam não só um sentido ritual, mas também uma visão do mundo ancorada no território e nos seus ritmos naturais.
Entre o visível e o lendário
Como acontece com muitos monumentos megalíticos na Península Ibérica, a Anta da Barrosa é associada à figura das mouras encantadas — seres femininos da tradição oral que habitam pedras, fontes, cavernas e montes.
Segundo as lendas locais, estas mouras são guardadoras de tesouros ou de saberes antigos, e só se revelam em certos dias do ano — como no solstício ou na noite de São João. Aparecem ora como mulheres de beleza incomum, ora como serpentes, reforçando a sua ligação aos cultos telúricos pré-cristãos e à simbologia da serpente enquanto guardiã dos limiares.
Essas histórias, muitas vezes contadas em voz baixa, funcionam como sobrevivências narrativas de práticas espirituais mais antigas — reinterpretadas pela tradição popular, mas enraizadas em símbolos muito anteriores.
Lugar de silêncio e permanência
A Anta da Barrosa não está musealizada nem cercada.
Fica num campo, rodeada de vegetação rasteira, acessível por um caminho de terra. O ambiente convida à pausa, e à observação cuidadosa: das pedras, do horizonte, da vegetação, da acústica do lugar. Não há painéis nem interpretações oficiais — apenas o sítio, o silêncio e o tempo.
No percurso do Guia Ophiussa, este é um lugar que antecede o mito — onde o sagrado ainda era apenas pedra e presença.