Facho de Donón – Cangas do Morrazo

Promontório sagrado e lugar de culto

“Na linha entre o mar e o céu, erguem-se pedras com nome de deus.”

No extremo da península do Morrazo, de frente para o oceano aberto, o Facho de Donón (ou Monte do Facho) guarda o silêncio mineral de um lugar que foi, em tempos antigos, povoado, altar e vigia.

📍 Situado num promontório costeiro com vista privilegiada para as Ilhas Cíes, este é um dos pontos mais fortes da leitura simbólica da antiga Gallaecia — um espaço onde arqueologia, culto e paisagem se entrelaçam.


Um castro e um santuário

No topo do monte encontram-se os vestígios de:

  • Um povoado castrejo fortificado, com estruturas habitacionais adaptadas ao relevo;
  • Uma zona cerimonial que terá acolhido um dos maiores santuários votivos da cultura galaica;
  • Mais de 150 aras dedicadas a Berobreo — deus do além, das passagens, das encruzilhadas.

Estas aras estavam muitas vezes enterradas no solo, em contextos votivos, sugerindo práticas de culto repetidas ao longo do tempo. As oferendas prolongaram-se durante séculos, até ao período romano, mostrando continuidade e resiliência espiritual.


Limiar entre mundos

O Facho não foi apenas um povoado. Era um lugar de vigia e de culto — um espaço de transição entre o conhecido e o desconhecido. A associação entre lugares altos, linhas costeiras e divindades ligadas à morte e ao invisível é recorrente na tradição galaica.

Berobreo (ou Bero Breo / Verobreo) não era apenas um nome inscrito na pedra. Era uma presença invocada num ponto onde terra firme e mar profundo se encontram. Onde a vida visível termina e outra dimensão começa.


Paisagem e orientação simbólica

O monte oferece visibilidade total sobre o Atlântico e o litoral galego — não só para fins defensivos, mas também para observação cerimonial.
Estes lugares de altura não eram apenas estratégicos: eram liminares simbólicos.

Ali, entre o céu e o mar, a divindade encontrava a paisagem — e o ser humano reconhecia a sua posição entre mundos.


Um lugar que ainda fala

Subir ao Facho não é apenas visitar ruínas.
É atravessar um limiar.
O caminho é pedregoso, a luz intensa, o vento constante. Não há templos nem explicações. Há pedras, horizonte, silêncio. E uma sensação difícil de nomear — como se ali, em tempos, se tivesse feito algo importante. Algo que ainda ressoa.


No contexto do Guia Ophiusa

O Facho de Donón é um ponto-chave do Guia Ophiusa — entre Ofir e Finisterra.

Representa a ligação íntima entre paisagem e divindade.
Marca um espaço liminar, associado à morte, à vigilância e à travessia espiritual.
Sugere uma continuidade simbólica e sagrada que sobreviveu ao tempo e à cristianização da região.

📌 Faz parte do roteiro Ophiusa — entre Ofir e Finisterra
🌐 Lê o guia completo em: thelandofserpents.com/guia-ophiusa

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