Mitos e Lendas de Tui – Terra Limiar entre Mundos
Tui emerge como um território liminal onde mitos e histórias se entrelaçam com a realidade medieval, revelando uma rica tapeçaria de crenças pagãs e narrativas cristãs.
Lenda de São Telmo e a Ponte das Febres
O padroeiro de Tui, São Telmo (ou Pedro González Telmo), adoeceu em Abril de 1251 durante uma viagem a Santiago de Compostela. Segundo a tradição, o santo, ao sentir a hora da morte aproximar-se, insistiu em regressar a Tui em vez de completar a peregrinação. No marco chamado Ponte das Febres (km 4 do caminho), São Telmo proferiu um milagre que retardou a morte para que esta ocorresse já em Tui, ao pé do cruceiro que hoje lhe presta homenagem1. Há também versões que dizem que, ao preverem a sua morte enquanto pregava, o obrigaram a retornar para falecer na sua diocese1.
O “Túnel das Clarisas” e a Lenda da Rainha Urraca
Uma das narrativas mais persistentes fala de um túnel secreto que ligaria a catedral de Tui ao antigo Convento das Clarissas, estendendo-se até ao Mosteiro de Ganfei, do outro lado do rio Minho, em Valença. A Lenda da Rainha Urraca, imperatriz de toda a Galiza (1107–1126), atribui-lhe a construção desse túnel para mover tropas ou tesouros sem serem vistos. Apesar de ser fisicamente impossível escavar tal obra no solo arenoso do Miño, o historiador Suso Vila sublinha que memórias de escadas, antigas galerias subterrâneas e canalizações vitorianas alimentam esta fantasia local2.
A Moura Encantada e o Penedo da Moura
Nas imediações de Tui ergue-se o Penedo da Moura, testemunha de uma das lendas mais célebres da região. Reza a história que uma jovem moura foi transformada numa serpente com cabeça de mulher para guardar um tesouro ancestral. Três rapazes ousaram quebrar o encanto recorrendo ao ritual do Livro de São Cipriano e às preces adequadas. Quando lograram abrir o rochedo, uma rajada de vento quente e uma figura ofiológica atemorizante obrigou-os a recuar, deixando o penedo fechado para sempre. No dia seguinte, a fonte junto ao penedo secou, e uma aparição feminina avisou-os de que não deveriam olhar para trás nem largar o cântaro de palha que lhes oferecera: quem o fizesse veria o tesouro transformar-se em ouro, mas nunca o poderia reter3.
A Torre do Bispo e as “Encerradas”
Durante a Idade Média, Tui foi palco de julgamentos e cárceres eclesiásticos. Diz-se que bruxas, hereges e maus-feitosos eram trancafiados na Torre do Bispo, junto ao Convento das Clarissas, através de um túnel apelidado de “Túnel das Encerradas”. Atravessá-lo evoca hoje histórias de vozes sussurrantes e assombrações, reforçando a atmosfera misteriosa do casco histórico4.
Estas lendas, que unem o sagrado e o profano, refletem a identidade de Tui como um lugar de passagem entre o visível e o oculto, onde cada pedra, cada fonte e cada monumento inspira narrativas que atravessam séculos. каждым elemento persiste na memória coletiva, entretecendo o património material e imaterial numa verdadeira “terra dos mitos” tornou-se um convite à descoberta das margens e dos subterrâneos de Tui.