A Lusitânia, território que hoje corresponde ao centro e sul de Portugal e à Extremadura espanhola, foi palco de ricas tradições religiosas que misturavam práticas locais, celtas e romanas. Embora muitos dos rituais e crenças tenham desaparecido com o passar dos séculos, alguns locais de culto continuam a ser visitados e estudados, revelando segredos antigos e oferecendo uma ligação tangível com o passado.
Santuário da Rocha da Mina
Localizado no Alentejo, o Santuário da Rocha da Mina é um dos mais significativos da antiga Lusitânia. Dedicado a Endovélico, deus associado à cura e à profecia, este local era um importante ponto de peregrinação para os lusitanos. Endovélico era uma divindade venerada pelas tribos locais, e as práticas associadas a este culto influenciaram profundamente a espiritualidade da região. O santuário, esculpido na rocha, simboliza a profunda conexão dos lusitanos com a terra e suas divindades protetoras.
Cabeço das Fráguas
No distrito da Guarda, o Cabeço das Fráguas é outro exemplo impressionante de um local de culto da antiga Lusitânia. Aqui, foram descobertas inscrições dedicadas a várias divindades, como Nabia, deusa das águas. Este sítio é particularmente importante por fornecer um vislumbre raro da língua lusitana, permitindo-nos compreender melhor as práticas religiosas e culturais do povo que habitava a região.
Castro de Ulaca
Localizado em Ávila, Espanha, o Castro de Ulaca é um dos maiores e mais bem preservados castros da Península Ibérica. Este local fortificado era um centro de vida comunitária e religiosa, onde os habitantes realizavam rituais que incluíam sacrifícios. O possível altar de sacrifícios encontrado em Ulaca é um testemunho impressionante das práticas espirituais da época e revela a importância da religião na vida cotidiana das tribos lusitanas.
Citânia de Briteiros
Embora associada principalmente aos celtas, a Citânia de Briteiros, em Guimarães, é um exemplo fascinante de como as práticas religiosas celtas e lusitanas se entrelaçaram. Este sítio arqueológico oferece um vislumbre das práticas espirituais da época, incluindo monumentos funerários e locais de culto, que indicam a continuidade e a adaptação de tradições religiosas pré-romanas.
As Divindades e o Simbolismo das Serpentes
As divindades adoradas pelos lusitanos, como Endovélico e Nabia, refletiam uma profunda conexão com a natureza e os elementos. As serpentes, símbolo de sabedoria e renovação, desempenhavam um papel central nas crenças locais, como evidenciado pelo nome “Ophiusa” dado pelos gregos à região, que significa “Terra das Serpentes”. Este simbolismo também ecoa no culto egípcio à deusa Wadjet, protetora do Baixo Egito e frequentemente representada como uma serpente. Embora não haja evidências diretas de um intercâmbio cultural entre os lusitanos e os egípcios, o culto às serpentes em ambos os contextos reflete uma veneração comum pela renovação, proteção e poder divino.
Conclusão
Os vestígios dos locais de culto da antiga Lusitânia não são apenas relíquias arqueológicas; são portais para um passado onde o sagrado e o quotidiano estavam intrinsecamente ligados. Estes sítios oferecem uma janela para as práticas espirituais de um povo que, apesar das invasões e das mudanças culturais, deixou uma marca indelével na história da Península Ibérica. A exploração destes locais é uma jornada para compreender melhor as raízes culturais e religiosas de Portugal e da Galiza, onde as montanhas, rios e vales ainda ecoam com as lendas e os mitos de tempos antigos.