As correntes Iluministas do século XVII abriram a porta a novos avanços científicos e aos valores humanitários que preconizaram as revoluções francesa e americana.
Mais de duzentos anos passados, enfrentamos catástrofes diversas: guerra, corrupção, manipulação, uma crise económica e existencial generalizada.
Precisamos, mais do que nunca, de referências.
Pessoas como Ignacio Perestrello, que antes de ser um soldado, era um Humanista.
Primogénito de uma das famílias mais poderosas do reino, o seu conforto, assim como o da sua linhagem, estaria assegurado por várias gerações de privilégios hereditários. No entanto, abdicou de títulos e propriedades. Da perspetiva segura de uma vida tranquila.
Eram especiais estes homens que não lutavam por riqueza, prestígio ou poder. (Não precisavam).
Foram, antes, privados dos seus bens, família e reputação, para lutar pelos fracos e oprimidos, pelos que não tinham voz. Sonhando o dia limpo, leve e fresco que nunca puderam a ver.
Os mesmos princípios que nos tornaram iguais e desejaram abolir a estrutura de classes, também criaram o capitalismo e com ele o consumismo desenfreado que nos esvaziou por dentro, tornando-nos conformados, sem vontade ou empatia que se estenda para além do núcleo social mais próximo, sem preocupações que vão além do acumular de bens materiais ou do suposto estatuto que advém do dinheiro e não da honra ou dos valores fundamentais.
A Revolução Francesa foi um sonho que ficou por cumprir, como foram todas as revoluções. [1]
Porque os que vierem depois não souberam conservar o que lhes foi entregue, tornando-se tão corruptos e desprezíveis como aqueles que anteriormente condenavam.
Devemos os privilégios adquiridos enquanto sociedade moderna, também aos filhos instruídos da nobreza e da burguesia!
Jovens educados, cultos e corajosos, que ousaram quebrar as regras por uma causa maior. Por um mundo melhor.
Se o ser humano é sempre produto do seu tempo, talvez Ignacio hoje, não fosse o “herói de capa e espada” que imagino, mas teria certamente o mesmo ímpeto, ousadia e dignidade.
O processo de pesquisa para este trabalho foi intenso, profundo e apaixonante. Cheio de “coincidências”, pistas metafísicas e sincronicidade!
Este, é o meu breve esboço da Monografia sobre “O Bravo Coronel Perestrello” que o Visconde de Cortegaça desejava, e cuja vontade deixou expressa no livro “Figuras Ilustres (Limianas e outros escritos)” publicadoem 1914 – e que, não resisti a tentar realizar.[2]
Para resgatar da sombra do esquecimento um valoroso ancestral, (Ignacio era o irmão mais velho do meu 5º avô José Perestrello Marinho), mas sobretudo para dar a conhecer, o “Valente Herói de Wagram” que sempre me encheu de orgulho e de uma imensa admiração.
[1] A Revolução Francesa foi um movimento político e social que ocorreu em França entre 1789 e 1799 e teve como objetivo principal acabar com a monarquia absolutista e estabelecer uma república democrática. Foi impulsionada por uma série de fatores: crise económica e fiscal, insatisfação da população com a nobreza e o clero, além das ideias iluministas que defendiam a liberdade, a igualdade e a fraternidade. O início da revolução foi marcado pela tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, símbolo do poder absolutista da monarquia francesa. Diversos acontecimentos marcaram a revolução, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789. Durante o período da Revolução Francesa ocorreram diversas mudanças políticas, sociais e culturais, como a abolição dos privilégios da nobreza e do clero, a secularização da sociedade e a criação de uma nova constituição.
[2] “Ignacio Perestrello é um dos mártires da liberdade a quem o seu país mais ingratamente tem esquecido. Na sua própria terra natal, em Ponte de Lima, ainda há pouco era quase ignorado. Não exagerarei afirmando – e de tal me orgulho – ter sido eu quem nos últimos anos com o modesto artigo agora transcrito muito contribui para divulgar os atos heroicos desse glorioso paladino dum ideal que ele não teve a ventura de ver realizado. Quando escrevi o artigo deixei aí manifestado o propósito de em ocasião favorável, publicar uma monografia sobre o ilustre português. Ainda o não pude fazer por falta de elementos. Mas hoje, que os estudiosos, apaixonadamente, se estão entregando aos trabalhos de reconstituição histórica, pode facilmente aparecer – e oxalá apareça – pessoa competente que a tal trabalho se queira abalançar. (…) Pois para esse alguém, algum material, vou aqui deixar.” (António de Magalhães).