Ao longo dos séculos, rituais e tradições profundamente enraizados no folclore local do Minho e da Galiza foram passados de geração em geração. Celebram a vida, a natureza e as forças invisíveis que moldam o quotidiano das suas gentes, e desempenham, ainda hoje, um papel central na identidade cultural da região.
Noite de São João: Fogueiras, Ervas e Saltos de Fé
Uma das celebrações mais emblemáticas no Norte de Portugal e na Galiza é a Noite de São João, uma festa pagã que foi cristianizada e celebra o solstício de verão. No Porto e em Vigo, milhares de pessoas reúnem-se para celebrar e para ver os fogos de artifício que iluminam o céu. Saltar por cima das fogueiras de São João é um dos rituais mais conhecidos, acreditando-se que traz boa sorte e proteção para o ano seguinte.
Além das fogueiras, é habitual, na noite de São João, colher e queimar ervas aromáticas como o alecrim e a hortelã, que são utilizadas em rituais de purificação. Outra tradição comum é o uso de manjericos, pequenos vasos de manjericão decorados com versos poéticos, que são oferecidos como símbolo de amor e amizade.
Os Rituais de Fertilidade: O Maio e as Maias
Na Galiza o mês de maio é celebrado com o ritual das Maias, uma tradição pagã que assinala a chegada da primavera e a fertilidade da terra. As casas e as portas das aldeias são decoradas com flores e ramagens para afastar os espíritos malignos e trazer prosperidade para o ano agrícola. Em algumas aldeias galegas, é comum ver figuras representando o Maio, uma personificação da primavera adornada com flores e vegetação, que percorre as ruas acompanhado por cânticos tradicionais.
No Minho, existe uma tradição semelhante conhecida como As Maias. Na véspera do dia 1 de Maio as pessoas decoram as casas e os espaços públicos com giestas, acreditando que as flores trazem proteção contra o mau-olhado e os espíritos indesejados.
As Festas do Solstício de Inverno: O Magusto
O Magusto é uma das festas mais antigas do calendário tradicional, celebrada no Dia de São Martinho, em novembro. Nesta época, os povos do norte de Portugal e da Galiza acendem fogueiras e assam castanhas enquanto se celebra a chegada do inverno e se agradecem as colheitas do outono. O vinho novo, proveniente da recente vindima, é partilhado e simboliza o início de um novo ciclo agrícola.
O Magusto é também um momento de convívio, onde as famílias e amigos se reúnem em torno da fogueira para cantar e contar histórias, mantendo viva a chama das tradições orais.
Entroido: A Celebração do Carnaval Galego
O Entroido, ou Carnaval da Galiza, é uma das festividades mais antigas e emblemáticas da região. Ao contrário de muitos carnavais europeus, o Entroido tem uma forte componente ritual e está ligado ao mundo rural e agrícola. Nas aldeias galegas, as ruas enchem-se de máscaras e fantasias tradicionais, muitas vezes representando figuras míticas ou animais, como o Urco, uma criatura lendária com cabeça de lobo.
Durante o Entroido, são realizadas procissões e enterros simbólicos que marcam o fim do inverno e o início da primavera, num ciclo de morte e renascimento profundamente ligado às antigas crenças pagãs. O Entrudo é celebrado com banquetes de pratos típicos, como o lacón com grelos e as filloas, numa festa que une o sagrado ao profano, o antigo ao contemporâneo.
O Rito da Queimada: Magia e Proteção
Outro ritual icónico que podemos encontrar tanto no Minho como na Galiza, é o rito da Queimada, uma bebida tradicional preparada à base de aguardente, açúcar, cascas de limão e grãos de café. A preparação da Queimada é um verdadeiro ritual de magia e proteção, onde se recita o famoso Conxuro (encantamento), uma oração pagã que invoca a proteção contra maus espíritos e forças negativas. Depois de recitado o encantamento, a bebida é incendiada, criando um espetáculo visual impressionante e um momento de conexão entre os participantes e o misticismo galaico.
A Queimada é frequentemente preparada durante celebrações noturnas, como o São João ou o Entroido, reforçando a ligação entre o fogo, a proteção espiritual e o convívio comunitário.
O Valor das Tradições no Slow Living
Estas tradições e rituais não são apenas celebrações do passado, continuam a ter um significado profundo na vida moderna, especialmente para aqueles que procuram um estilo de vida mais lento e conectado com a natureza. Participar nestes rituais é uma forma de imergir numa cultura que valoriza os ciclos da terra, o convívio humano e o respeito pelas forças invisíveis que moldam a vida.
Para os viajantes interessados em slow travel e turismo cultural, o Minho e a Galiza oferecem uma experiência autêntica e envolvente. O passado e o presente fundem-se e manifestam-se através de rituais e tradições, cuja origem se desvanece nas brumas do tempo. Simbolizam a vida, a morte, a natureza e a comunidade.
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