Na curva luminosa da costa galega, Sanxenxo surge como um ponto de encontro entre a beleza cintilante do mar e a densidade ancestral da terra. Mais do que um destino balnear, esta vila da província de Pontevedra guarda em si o eco de civilizações antigas, de ritos que sobreviveram ao tempo e de um modo de viver que convida a abrandar. Aqui, o Atlântico fala com voz de sal, e os caminhos entre pinhais e penedos levam-te a redescobrir a alma de uma Galiza profunda.
Um Refúgio Banhado pela Luz
Em Sanxenxo, a luz muda com o vento. De manhã, doura as areias finas da Praia de Silgar, onde a famosa escultura da Madama parece saudar o mar como quem reza. Ao entardecer, pinta de âmbar as enseadas de Canelas ou Paxariñas, criando cenários que pedem silêncio e contemplação. Ao contrário do que muitos pensam, Sanxenxo não se esgota no seu verão vibrante. Fora da época alta, revela-se em plenitude: mais calma, mais autêntica, mais sensível.
Os Sinais do Passado
A história de Sanxenxo remonta ao período castrejo, com vestígios da presença de povos galaicos em vários pontos da região. Próximo, o Castro de A Lanzada e a própria Ermida da Lanzada são testemunhos de uma linha invisível entre o sagrado e o profano. Diz-se que, na Idade do Ferro, este promontório rochoso servia de lugar de culto aos deuses do mar, associados à fertilidade e à proteção das embarcações.
Mais tarde, sob domínio romano, o lugar tornou-se ponto estratégico de ligação comercial e espiritual. A ermida atual, dedicada a Nossa Senhora da Lanzada, herda tradições pagãs transformadas em rituais cristãos, como o banho das nove ondas — uma prática de origem celta associada à fertilidade feminina que ainda hoje atrai crentes e curiosos.
Tradições que Ecoam
Em Sanxenxo, a memória vive nas festas populares, nas procissões que acompanham o mar e nos cantares que se ouvem em tabernas junto ao porto. A cultura marítima continua presente na gastronomia — onde o marisco fresco e o peixe grelhado são protagonistas — mas também no espírito das gentes locais, que vivem em sintonia com os ciclos da maré e com a sabedoria herdada dos seus avós.
Na freguesia de Noalla, o ambiente rural contrasta com o glamour das praias. Aí, entre vinhedos e hortas, podes experimentar o verdadeiro slow travel, alojando-te em casas de pedra restauradas, onde o tempo parece andar ao ritmo do vento entre as oliveiras.
Lugares de Alma
Para além do areal, Sanxenxo oferece trilhos costeiros onde o azul do mar se encontra com o verde dos bosques atlânticos. O Sendeiro Litoral de Sanxenxo, que liga praias e miradouros, é ideal para caminhadas meditativas ao final da tarde, quando o sol mergulha devagar no horizonte.
Em Portonovo, uma antiga vila piscatória agora integrada no concelho, sente-se ainda o pulsar genuíno da vida marítima. As redes secam ao sol e os barcos ancorados contam histórias de sal e tempestade. É aqui que se vive o verdadeiro espírito galego, sem pressas nem artifícios.
Dica Prática
Se viajares fora dos meses de verão, encontrarás um Sanxenxo mais introspectivo — ideal para quem busca paz e beleza. Opta por alojamentos com vista para o mar ou recantos rurais em Adina ou Dorrón, e não deixes de provar o Albariño da região, um vinho que combina na perfeição com a brisa atlântica.
Ligações e Inspiração
Sanxenxo é um lugar onde a pele sente a memória da água e o espírito se eleva com o rumor das ondas. Um espaço onde a beleza não é apenas visual, mas também simbólica — e onde, ao caminhares com calma, talvez possas ouvir o Atlântico sussurrar os segredos antigos da terra das serpentes.