Serra d’Arga

Serra do Alto Minho com biodiversidade luxuriante, práticas rurais vivas e a ancestral a São João d’Arga. Um território de silêncio, travessia e permanência.

Entre o sagrado e o selvagem, um território de travessia no Alto Minho

A Serra d’Arga ergue-se entre o litoral atlântico e os vales interiores do Alto Minho, dividindo os concelhos de Caminha, Viana do Castelo, Ponte de Lima e Vila Nova de Cerveira. Com cerca de 825 metros de altitude no seu ponto mais alto, é uma das últimas grandes elevações antes da costa — e, por isso mesmo, um lugar de transição.

Esta serra não é imponente pela altura, mas pela presença.
Estende-se em longos dorsos cobertos de mato, bosques, penedos e linhas de água cristalina. Ao longe, avistam-se o mar, os castros costeiros, os rios e, em dias claros, até a Galiza.

Paisagem natural e biodiversidade

A Serra d’Arga faz parte da Rede Natura 2000 e inclui habitats de elevado valor ecológico, como matas de carvalhos, áreas húmidas, turfeiras e cascatas graníticas. É também um dos poucos locais em Portugal onde ainda se encontram lobos-ibéricos em estado selvagem.

Trilhos bem marcados permitem percorrer a serra a pé, cruzando zonas de pastoreio tradicional, campos murados e espigueiros em pedra. A paisagem é viva e usada — não é cenário. Ainda se ouvem os sinos do gado e o som da água a correr por levadas escavadas à mão.

Sítios de culto e tradição

No cimo de um dos montes ergue-se o Mosteiro de São João d’Arga, um pequeno santuário de origem medieval, isolado e austero, rodeado por uma paisagem de silêncio. Todos os anos, em agosto, a romaria a São João d’Arga atrai centenas de pessoas — algumas por fé, outras pela celebração popular que envolve dança, música, comida e pernoita no monte.

Esta é uma das festas mais antigas e singulares do Minho.
A romaria repete um padrão ancestral: subir ao monte, pernoitar junto ao sagrado, conviver, celebrar. Um gesto que remete para práticas anteriores ao cristianismo, ainda visíveis no ritmo e na organização do espaço.

Um lugar para atravessar — e escutar

No percurso do Guia Ophiussa, a Serra d’Arga representa um dos territórios mais simbólicos:

  • Pela sua posição de charneira entre o litoral e o interior;
  • Pela presença de tradições rurais preservadas, ligadas ao calendário agrícola e à paisagem;
  • Pela forma como a espiritualidade se ancora no território — mais do que em dogmas, nos lugares.

A serra não precisa de explicação. Basta caminhar nela.
E perceber como a terra, aqui, ainda impõe o ritmo.

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