✦ 1. A Transmissão do Conhecimento Clássico
Com a queda do Império Romano, a Europa Ocidental mergulhou num período de fragmentação cultural.
Mas a herança cosmológica de Platão e Aristóteles não desapareceu — foi preservada e reinterpretada à luz da teologia cristã.
- Mosteiros e universidades medievais tornaram-se centros de cópia e estudo das obras clássicas.
- Filósofos islâmicos como Avicena e Averróis traduziram e comentaram Aristóteles, influenciando o pensamento europeu.
- A partir do século XII, as traduções do árabe para o latim reacenderam o interesse pelas visões cosmológicas antigas.
O modelo geocêntrico e hierárquico foi mantido, mas agora fundido com os dogmas cristãos.
✦ 2. A Cosmologia Medieval: Ptolemeu e a Igreja
O principal modelo cosmológico da Idade Média foi o de Cláudio Ptolemeu, formulado no século II d.C. no Almagesto.
- A Terra no centro do universo (geocentrismo).
- Os corpos celestes movem-se em esferas concêntricas.
- Os epicíclos explicam as aparentes irregularidades dos planetas.
A visão cristã do cosmos
A Igreja Católica adotou esta cosmologia como doutrina oficial, por estar alinhada com a ideia de um universo ordenado, fechado e criado por Deus.
A Escolástica e São Tomás de Aquino
A filosofia medieval buscava conciliar razão e fé:
- A hierarquia do cosmos refletia a ordem divina.
- O Primeiro Motor Imóvel de Aristóteles foi identificado com Deus.
- As esferas celestes perfeitas tornaram-se símbolo da criação divina.
Qualquer questionamento ao modelo geocêntrico era visto como ameaça à autoridade e à fé.
✦ 3. As Primeiras Contestações: O Humanismo Renascentista
Com o Renascimento, surgem novas formas de pensar:
- O Neoplatonismo trouxe de volta a ideia de um cosmos regido por proporções matemáticas.
- A alquimia e a astrologia, apesar do seu misticismo, incentivaram a observação.
- A valorização da experiência empírica começou a rivalizar com a autoridade dos textos antigos.
Estava criado o cenário para uma revolução no pensamento cosmológico.
✦ 4. O Renascimento e a Nova Visão do Cosmos
Nicolau Copérnico e o Sol no centro
No De Revolutionibus Orbium Coelestium (1543), Copérnico propõe o modelo heliocêntrico:
- O Sol está no centro; a Terra gira em torno dele.
- A Terra move-se, e não é o ponto fixo do universo.
- O modelo explicava com elegância o movimento dos planetas — mas não foi imediatamente aceite.
Johannes Kepler e as órbitas elípticas
Kepler corrige o modelo copernicano:
- Os planetas não se movem em círculos perfeitos, mas em elipses.
- As suas leis derrubam a crença na perfeição geométrica aristotélica.
Galileu Galilei e a prova através da observação
Com o telescópio, Galileu transforma a cosmologia:
- Observa as luas de Júpiter — prova que nem tudo gira em torno da Terra.
- As fases de Vénus confirmam o heliocentrismo.
- Detecta imperfeições na Lua e manchas solares, contrariando a ideia de céus perfeitos.
Em 1633, foi condenado pela Inquisição. Mas o paradigma já estava a mudar.
✦ 5. O Fim da Cosmologia Medieval
O Renascimento marca a rutura com a visão antiga do cosmos:
- O heliocentrismo desloca a Terra do centro do universo.
- A observação e o cálculo matemático tornam-se ferramentas principais.
- A autoridade da Igreja sobre o saber começa a ser contestada.
Esta transformação prepara o terreno para Isaac Newton, que consolidará a cosmologia moderna com as leis do movimento e da gravitação universal.