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Castro de Santa Trega

by A Herdeira das Serpentes

Miradouro castrejo sobre o Atlântico

“Há lugares onde a paisagem é só o começo. O Castro de Santa Trega é um deles.”

Erguido sobre a foz do Minho como uma sentinela de pedra, o Castro de Santa Trega é, desde há séculos, um dos pontos mais impressionantes da paisagem galaica.

A sua localização — no alto do monte com 341 metros de altitude — revela não apenas beleza natural, mas também uma escolha geoestratégica notável: dali avista-se o Atlântico, o traçado do rio Minho e, ao longe, a costa portuguesa. Um lugar de vigilância, passagem e permanência.

A melhor panorâmica castrense entre dois países — Portugal e Galiza estendem-se perante os olhos como se partilhassem o mesmo horizonte. A beleza natural reforça o carácter simbólico deste território de fronteira.


Um povoado castrejo sofisticado

Este extenso povoado, habitado de forma contínua entre os séculos I a.C. e I d.C., chegou a albergar cerca de 5.000 habitantes no seu apogeu. É considerado um dos mais desenvolvidos exemplos de urbanismo castrejo no noroeste peninsular.

As escavações, iniciadas no século XIX e ainda em curso, revelaram:

  • Habitações circulares e retangulares, com vestígios de várias fases de ocupação;
  • Ruas e pátios organizados numa malha coerente, adaptada ao relevo natural do monte;
  • Estruturas familiares compostas por várias construções em torno de pequenos espaços lajeados;
  • Sistema de drenagem esculpido na rocha, canais, silos e zonas de armazenamento;
  • Vestígios de pintura nas paredes, lareiras centrais, bancos interiores, vestíbulos e fornos.

Apesar das influências romanas, o traçado respeita em larga medida os princípios da cultura castreja. A organização do espaço — feita em unidades familiares com moradias e armazéns — mostra um povo estruturado, autónomo e adaptado ao território.


Um ponto de contacto entre civilizações

Foram encontrados numerosos vestígios de contacto com o mundo romano:

  • Fragmentos de cerâmica indígena e romana, terra sigillata, ânforas e lucernas;
  • Objetos de vidro policromo (millefiori), contas de colares e fichas de jogo;
  • Moedas dos imperadores Augusto e Tibério;
  • Ferramentas agrícolas, moldes, pesas de tear e fusaiolas;
  • Peças de ourivesaria em ouro e bronze, fíbulas e pingentes;
  • E ainda elementos ligados à pesca e marisqueio, como anzóis, restos de conchas e ossos de peixes.

A sua localização permitia não só o controlo do tráfego marítimo e fluvial, como também o acesso a rotas comerciais atlânticas — sendo um ponto estratégico relevante tanto em tempos indígenas como romanos.


Rastos mais antigos

Antes do castro, o monte já era habitado. Gravuras rupestres com mais de dois milénios — como a chamada Laje Sagrada, com espirais e círculos concêntricos — provam a presença humana ainda no Neolítico final.

Muitos destes petróglifos foram parcialmente cobertos pelas construções castrejas, mas ainda hoje é possível vislumbrar alguns, entre muros e pedras.


No cume, a ermida

No ponto mais alto do monte ergue-se a ermida de Santa Trega, cuja primeira referência escrita data de 1549. O caminho de cruzes que leva até ela ecoa — de forma cristianizada — antigos rituais de subida e contemplação.

A romaria, que ainda se celebra, junta fé e tradição num território marcado por práticas ancestrais de culto ao alto e ao sagrado.


MASAT — Museu Arqueológico de Santa Trega

No sopé do monte, o MASAT (Museu Arqueológico de Santa Trega) reúne muitas das peças descobertas nas escavações — cerâmicas, ferramentas, adornos, objetos do quotidiano e elementos votivos.

A visita ao museu antes (ou depois) da subida permite contextualizar a experiência. Entre o que os olhos vêem e o que os sentidos pressentem, há um fio condutor feito de memória material.

📍 A Guarda, Pontevedra – Galiza
⏰ Entrada paga. Visita livre. Museu com horário variável.
🌐 www.museocastrosantatecla.gal


Pedra onde o tempo se escreveu com vento

Santa Trega não é só miradouro. Nem apenas ruína.

É um lugar-chave da arqueologia galaica.
É um território de transição e permanência.
É um ponto de contacto entre culturas — onde o tempo se escreveu com linhas de vento.

📌 Faz parte do roteiro Ophiusa — entre Ofir e Finisterra
🌐 Lê o guia completo em: thelandofserpents.com/guia-ophiusa


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