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Gotas Magmáticas de Canto Marinho

by A Herdeira das Serpentes

Paisagem costeira com pegadas fossilizadas, falésias graníticas e formações raras como as gotas magmáticas. Um território que revela a geologia como primeira memória da Terra.

Quando a paisagem revela o tempo profundo da terra

Entre o mar e a serra, o território de Viana do Castelo guarda uma das maiores concentrações de património geológico do país. O Geoparque Litoral de Viana do Castelo, criado em 2017 e atualmente em processo de candidatura à UNESCO, abrange mais de 320 km² e reúne uma diversidade impressionante de geossítios — muitos deles acessíveis ao longo de trilhos costeiros e interiores.

Mais do que um espaço de conservação, o Geoparque propõe uma nova forma de olhar a paisagem: não apenas como cenário, mas como arquivo natural, onde cada rocha, falésia ou fóssil conta uma parte da história da Terra.

Geossítios com milhões de anos

O geoparque inclui 13 geossítios classificados como Monumento Natural e dezenas de outros pontos de interesse geológico. Entre os mais emblemáticos, destacam-se:

  • Praia de Canto Marinho, com pegadas fossilizadas do período Paleozoico;
  • Falésias de Montedor, com formas esculpidas pela erosão marinha e granitos muito antigos;
  • Cascatas da Ferida Má, no rio Âncora, onde a água modelou a rocha ao longo de milénios;
  • Campos de blocos graníticos, resultado de ciclos sucessivos de glaciação e erosão;
  • E um fenómeno geológico raro: as gotas magmáticas.

As gotas magmáticas: marcas de um magma antigo

Nas imediações de Montedor, é possível observar formações esféricas de composição distinta embutidas no granito — conhecidas como gotas magmáticas. Estas estruturas foram criadas há centenas de milhões de anos, durante o arrefecimento rápido do magma, num processo de separação de fases minerais que raramente se conserva de forma visível.

Estas “esferas” minerais são como impressões digitais do interior da Terra. A sua presença reforça o valor científico do geoparque e oferece pistas concretas sobre a formação do território — muito antes de qualquer presença humana.

Interpretação, tecnologia e educação

O Geoparque aposta numa abordagem acessível e inovadora. Os visitantes podem explorar os geossítios através de trilhos sinalizados, totens interativos e uma app com geolocalização e realidade aumentada. Vários centros interpretativos apoiam a visita e promovem atividades educativas para escolas e público em geral.

Mais do que um projeto de conservação, trata-se de uma ferramenta de conhecimento e cidadania ambiental. A ligação entre geologia, ecossistemas, cultura e identidade local está no centro do projeto.

O seu lugar no percurso Ophiussa

No contexto do Guia Ophiussa, o Geoparque Litoral representa a camada mais profunda da paisagem — anterior a mitos, castros ou romarias. Aqui, a própria terra é memória.

As falésias, as rochas e os fósseis visíveis são registos físicos de um passado remoto, onde ainda não havia nomes, mas já havia formas. São estas formas que, mais tarde, darão origem aos símbolos.

Integrar o geoparque no percurso é lembrar que a paisagem não começa com a história — começa com o tempo. E esse tempo, aqui, está exposto.


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